Descoberto primeiro tratamento em potencial para derrames ligados à demência:

Dois medicamentos baratos e comuns podem ser reaproveitados como o primeiro tratamento específico para pessoas que sofrem um tipo de derrame ligado a quase metade de todos os casos de demência, de acordo com os resultados de uma nova pesquisa.

Um ensaio clínico realizado pela Universidade de Nottingham e pela Universidade de Edimburgo mostrou que o mononitrato de isossorbida e o cilostazol, que já são usados para tratar outras doenças cardíacas e circulatórias, podem melhorar com segurança e eficácia os resultados debilitantes que as pessoas experimentam após o AVC lacunar, principalmente quando usados em combinação.

As descobertas do estudo foram apresentadas ontem na Conferência Internacional de AVC da American Heart Association, nos EUA.

Os derrames lacunares afetam pelo menos 25.000 pessoas no Reino Unido a cada ano.

Acredita-se que sejam causados por doença cerebral de pequenos vasos (cSVD), em que pequenos vasos sanguíneos profundos no cérebro são danificados e param de funcionar adequadamente.

Os derrames lacunares podem ter efeitos angustiantes, pois as pessoas podem desenvolver problemas de pensamento e memória, movimento e até demência.

Atualmente não existem tratamentos eficazes para a doença.

Os dois medicamentos testados podem estar disponíveis como tratamento para AVC lacunar dentro de cinco anos, se os resultados forem confirmados em outros testes, de acordo com a equipe pioneira de testes das Universidades de Edimburgo e Nottingham, liderada pelos professores Joanna Wardlaw e Philip Bath, e Instituto de Pesquisa de Demência do Reino Unido.

O estudo envolveu 363 pessoas que sofreram um AVC lacunar. Além do tratamento padrão de prevenção de AVC, os participantes tomaram mononitrato de isossorbida ou cilostazol individualmente, ambos os medicamentos, ou nenhuma das substâncias, por um ano.

Os pesquisadores investigaram o cilostazol e o mononitrato de isossorbida, pois acredita-se que eles melhorem a função do revestimento interno dos vasos sanguíneos (o endotélio). Acredita-se que problemas com o endotélio desempenhem um papel na cSVD.

Depois de um ano, os participantes que tomaram as duas drogas tiveram quase 20% menos probabilidade de ter problemas com o pensamento e a memória em comparação com o grupo que não tomou nenhum dos remédios. Eles também eram mais independentes e relataram uma melhor qualidade de vida.

Aqueles que tomaram mononitrato de isossorbida tiveram menos probabilidade de ter novos derrames em um ano do que aqueles que não tomaram o medicamento.

O mononitrato de isossorbida individualmente também melhorou as habilidades de pensamento e memória e a qualidade de vida, enquanto o cilostazol melhorou a independência e o humor. Mas esses efeitos foram fortalecidos quando os dois medicamentos foram tomados juntos.

A equipe agora planeja testar esses medicamentos em um ensaio clínico maior de quatro anos, que espera começar até o final de 2023. Eles também procuram testar se os medicamentos são eficazes em diferentes condições ligadas ao cSVD, como comprometimento vascular cognitivo e demência.

A professora Joanna Wardlaw, presidente de neuroimagem aplicada na Universidade de Edimburgo e presidente da fundação do UK Dementia Research Institute, disse: "Até agora, os derrames lacunares são tratados como outros tipos de derrame, mas o derrame lacunar é claramente diferente. Agora entendemos mais sobre o que está provocando esses derrames para atacar o cérebro, conseguimos concentrar nossos esforços em tratamentos que podem interromper esse dano."

"Precisamos confirmar esses resultados em estudos maiores antes que qualquer um dos medicamentos possa ser recomendado como tratamento. No entanto, como esses medicamentos já estão amplamente disponíveis para outros distúrbios circulatórios e são baratos, não deve demorar muito para mover nossas descobertas da pesquisa para prática clínica diária."

O professor Sir Nilesh Samani, diretor médico da British Heart Foundation, disse: "Essas descobertas promissoras fornecem um passo positivo há muito esperado para os primeiros tratamentos disponíveis para derrames lacunares, oferecendo a esperança necessária para milhares de pessoas".

"Os derrames lacunares não são a única maneira pela qual a doença cerebral de pequenos vasos pode afetar alguém. Essas descobertas também abrem novos caminhos de pesquisa em outras condições relacionadas à doença de pequenos vasos, como a demência vascular".

Fonte: University of Nottingham / MedicalXpress.